segunda-feira, 7 de abril de 2008

A Crise Americana e a Blindagem do Brasil


O Brasil vive momentos de euforia econômica, com criação de postos de trabalho, aumento de renda da população, aumento do consumo e aquecimento do setor produtivo, em uma cadeia cíclica, como há tempos não se via por aqui. Tudo muito bonitinho, tabulado sob a forma de números comparativos com períodos anteriores, para o Lula se gabar em um desses palanques erguidos no interior do Brasil para inaugurar alguma obra do PAC.

Aliás, vocês já viram algum desses discursos de inauguração de obras do PAC pela TV? É engraçado, porque a platéia (em geral composta por pessoas pobres, com pouca instrução e oportunidades) vibra, aplaude, grita o nome do Presidente e delicia-se num regojizo de esperança nas palavras otimistas do nosso líder e no discurso de que as coisas estão melhores e vão melhorar ainda mais.

Isso não é esperança. É desespero. A situação anda tão crítica, que o pessoal já está se agarrando a qualquer coisa boa que vem da boca do nosso ilustre Presidente, na ilusão de que, agora, "a coisa vai". Pobres de nós. Além de um pequeno benefício aqui e ali, os números que o Presidente divulga a plenos pulmões só interessam aos detentores do capital e, claro, à classe política.

É...economia estável; frearam a taxa de juros (lá no alto, é verdade); inflação controlada; tudo bem. Só que os efeitos desse "momento único" ainda não são sentidos em grande escala social. Os efeitos são ínfimos, perto das necessidades de um povo miserável como o nosso.

Mas brasileiro é otimista. Brasileiro é persistente. Então vai lá e bate palmas pro Lula no "comício" do PAC. Porque se dizem que as coisas estão melhores para alguém, vá que não melhorem para nós também, algum dia.

Voltando ao assunto, os Estados Unidos, maior potência econômica mundial, vive um período amargo. Uma crise financeira tenebrosa que, por conta da Globalização, afeta ao resto do mundo. Eu voltei dos Estados Unidos há menos de um mês e vi de perto a situação. Desemprego em alta, rendimento da população em queda, desaceleração da produção, em uma cadeia cíclica que joga, cada vez mais, o país em uma situação de queda-livre. Tudo ao contrário do que o brasil vive hoje.

O mercado imobiliário americano atravessou um "boom" nos últimos anos. E o mercado financeiro mundial apenas observava, com certo temor, sobretudo ultimamente. O medo era exatamente sobre a oferta de crédito disponível, já que a taxa de inadimplência do setor aumentou, uma vez que o tal "boom" sustentou-se sobre pessoas que não tinham um perfil tão confiável, portanto com menos garantia de pagamento. É o que se chama de "subprime" (ou crédito de segunda linha). Em suma, emprestaram dinheiro demais para quem se sabia que não poderia pagar. E deu no que deu. Porcausa do alto volume de dinheiro disponível o "subprime" foi um setor que cresceu muito, o que faz a crise atual crescer proporcionalmente ao seu tamanho.

Como os empréstimos "subprime" embutem maior risco, eles têm juros maiores, o que os torna mais atrativos para gestores de fundos e bancos em busca de retornos melhores. Estes gestores, assim, ao comprar tais títulos das instituições que fizeram o primeiro empréstimo, permitem que um novo montante de dinheiro seja novamente emprestado, antes mesmo do primeiro empréstimo ser pago. Também interessado em lucrar, um segundo gestor pode comprar o título adquirido pelo primeiro, e assim por diante, gerando uma cadeia de venda de títulos.

Porém, se a ponta (o tomador do empréstimo) não consegue pagar sua dívida inicial, ele dá início a um ciclo de não-recebimento por parte dos compradores dos títulos. O resultado? todo o mercado passa a ter medo de emprestar e comprar os "subprime", o que termina por gerar uma crise de liquidez (retração de crédito). E a quebradeira é geral, em efeito cascata.

Até agora, ninguém sabe calcular quanto os bancos e fundos de investimento têm aplicados nesses créditos de alto risco. E, nessa incerteza, o dinheiro pára de circular: quem possui recursos sobrando não empresta e quem precisa de dinheiro para cobrir falta de caixa não encontra quem forneça. Mais quebradeira, freando a produção, aumentando o desemprego e diminuindo o consumo.

Mas o que isso tem a ver conosco?

Buenas... primeiramente, com relação às Bolsas de Valores: como regra geral, investidor tem aversão a riscos. Os que investem em ações preferem sair das Bolsas, sujeitas a oscilações sempre, e aplicar em investimentos mais seguros. Além disso, os estrangeiros que aplicam em mercados emergentes, como o Brasil, vendem seus papéis para cobrir perdas lá fora. Com muita gente querendo vender, os preços dos papéis caem, no que chamamos de deflação de demanda. Então o mercado financeiro se torna extremamente volátil em todo o mundo.

No âmbito macroeconômico, as exportações brasileiras poderiam ser afetadas, o que refletiria em uma diminuição na produção, resultando em alta do índice de desemprego. No entanto, a economia brasileira é bem diversificada e os Estados Unidos, apesar de grande comprador de produtos brasileiros, não é mais fator tão determinante no desempenho do setor exportador do país. Prova disso é que, com toda a crise americana e mesmo com dólar desvalorizado, a balança comercial continua superavitária.

Além disso, ao contrário do passado, quando a expansão da economia estava muito concentrada nas exportações, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos trimestres foi sustentado pelo mercado interno. Isso fortaleceu a indústria nacional, aumentando os níveis de emprego e de renda, estimulando o consumo e fazendo girar as engrenagens da economia.

Apesar de a taxa de juros no Brasil ainda estar entre as mais elevadas do mundo, nos últimos anos houve movimento de redução dos índices e acesso ao crédito, especialmente o imobiliário. Como o déficit habitacional brasileiro é de quase 8 milhões de moradias, construtoras e incorporadoras nunca venderam tanto.

Além disso, o Brasil praticamente zerou sua dívida pública em dólares. As contas estão equilibradas, o superávit primário tem ajudado a reduzir a relação dívida-PIB e a inflação está sob controle, dentro das metas do Banco Central.

Talvez esses sejam os motivos de ainda não sentirmos os efeitos da crise americana por aqui. Há uma certa robustez econômica no Brasil. Mas apesar do cenário otimista, não dá para dizer que estamos totalmente blindados. Ninguem está. Hoje em dia, na economia globalizada, uma coisa é ligada a outra. Com certeza, nossa economia vai levar algum arranhão, mais cedo ou mais tarde.

Agora, imaginem que beleza se o governo diminuisse a carga tributária dos empregadores e empregados? Haveria mais produção, mais emprego, mais dinheiro girando e, por conseqüência, crescimento de arrecadação do governo em forma de impostos, já que seria possível taxar um número maior de contribuintes, sem uma carga tributária tão grande.

Acho que aí mora o segredo para uma maior distribuição de renda da nação e a solução para um problema histórico nacional.

Um comentário:

André Thiesen disse...

Ótimo texto Vico valeu a pena ler!!
Vou mandar um texto p ti!
Grande Abraço!