sábado, 12 de abril de 2008

Ideologia?



A palavra "ideologia" não deveria constar mais no dicionário da língua portuguesa falada no Brasil. Ela deveria pular da seção da letra "i" para a letra "c" e ser substituída pela palavra "coligação".

Não aquela coligação entre partidos de ideologias semelhantes, que lutam pelo mesmo fim. Esse romantismo não existe mais nas coligações partidárias da política nacional. A prática hoje é a coligação na sua mais nefasta face e no pior sentido da palavra.

A onda agora é coligar para arranjar uma "boquinha" no governo... um ministério... uma coordenação de órgão público... até cargo de baixo escalão já está valendo. Qualquer coisa que garanta uma certa influência. Assim fica mais fácil desviar daqui, roubar dali, tirar vantagem acolá. Afinal, se todos roubarem juntos, não vai sobrar ninguém para denunciar a corrupção. A não ser o jornalismo investigativo. Essa parece ser a forma mais eficiente de combate à roubalheira no Brasil.

Não se coliga mais por convicção. Coliga-se por interesses. Quem imaginaria o PT aliando-se ao PSDB? Apesar de alguns estados ainda não terem engolido a idéia, em Minas Gerais isso já está em curso.

Lula inseriu no seu governo adversários históricos do PT e mandou às favas a ideologia do tempo de oposição e do próprio partido. A coisa está tão sem sentido que as únicas pessoas que mantiveram-se fiéis à ideologia petista lá do início, acabaram sendo expulsas do partido: Luciana Genro, Babá e Heloisa Helena, que acabaram fundando o P-SOL. No mais, parece que o PT é um PMDB com outra sigla.

E aqui no Rio Grande do Sul a gente também pode comprovar outros contrasensos políticos. Dissidentes famosos do PMDB, totalmente inclinados para a direita, filiaram-se ao mesmo partido de Roberto Freire (um dos expoentes do esquerdismo nacional), o PPS. Esse grupo era composto, principalmente, por Antônio Britto, Nelson Proença, Berfran Rosado, Cézar Busatto, Paulo Odone, Iara Wortmann, Mario Bernd, Clenia Maranhão e José Fogaça. Este, por sinal, acabou elegendo-se pelo partido para prefeito de Porto Alegre e depois acabou bandeando-se de volta ao PMDB.

E o PPS vai coligar-se com o PC do B aqui em Porto Alegre. Até que essa coligação não me surpreenderia, afinal são partidos, historicamente, de esquerda. Agora, fica difícil conceber a idéia de ver Cézar Busatto, Paulo Odone ou Antônio Britto, entre outros que apoiavam Rigotto, FH e Serra, promoverem bandeiraços nas esquinas da capital em favor da candidata Manuela D'ávila (PC do B) que, ao que tudo indica, vai bater forte no atual prefeito, que o próprio PPS elegeu. Pois no Rio Grande do Sul, o PPS tem muito mais a cara da direita, não lembrando em nada o histórico de ideais do partido. O PPS não tem mais identidade.

Infelizmente, a política virou um grande negócio. E a ideologia se perdeu. A não ser que exista gente que tenha o fato de esconder dinheiro em cuecas e de comprar votos de deputados como ideal de vida.

Cazuza reviraria-se no caixão se soubesse que sua letra da música "Ideologia" mudaria do original "ideologia - eu quero uma para viver" para ser entoada em voz alta por muitos políticos: "ideologia - sem ela eu posso me eleger".

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